Hoje pensei sobre meus títulos e aquele resuminho que pode vir depois dele. Procuro ser objetiva e quem sabe, dar um gostinho de quero mais.
Num primeiro momento foi uma comparação com outras newsletters. Será que dizer mais sobre o que esperar daquele texto não seria melhor? Olha o que fulana anda fazendo…
Joguei essa autocobrança pra lá, mas como uma boa pensadora que sou, pus-me a analisar. Gosto de encontrar significados nas coisas aparentemente simples.
Deixando o certo e errado pra lá, será que escrever títulos pequenos querem dizer alguma coisa?
Na infância, minha aula preferida era a de português e principalmente a hora das redações. Minha alegria eram as boas notas para meus textos e claro, os livros que passei a ler. Fui ensinada que devemos deixar o título por último. Dessa forma descobri que o raciocínio vai sendo criado aos poucos, conforme você escreve e precisa concatenar as ideias, dar significado, contar uma história ao leitor. Concluir arrematando o que foi dito e se possível, deixar algo a se pensar pro futuro. Depois do texto pronto você pensava em qual título poderia resumir, trazer à reflexão ou até mesmo brincar com o texto. Ele não deveria ser apenas uma descrição.
Então nos era dado um tema. A partir dele, eu buscava palavras-chave. Aquilo que me vinha na cabeça. A depender das palavras, percebia que o texto ia por um caminho. Tentava não ser muito óbvia, mas isso é difícil até hoje. É difícil reconhecer aquilo que está dentro de você e aquilo que pode ser uma repetição do que estão falando por aí, sem filtro. Valeria a pena escrever o que todo mundo já sabe?
Hoje percebo que a busca pelas palavras-chave era um momento de reflexão e de conexão. O que aquilo me dizia, como ressoava em mim. As palavras eram um indicativo até mesmo de como estava meu padrão de pensamento na época.
Nunca me esqueci (e pena que não guardei) um texto de escola que contava sobre uma vendinha no interior na qual o dono queria colocar uma placa na frente. Ele escreve uma placa (vou tirar de memória com licença poética):
“Aqui neste local vendem-se ovos de galinha caipira frescos.”
E então ele começa a analisar o dizeres.
- Aqui neste local talvez seja redundante. Vou tirar.
“Aqui vendem-se ovos de galinha caipira frescos.”
- Mas “aqui” também não precisa, afinal se a placa está em cima da porta da minha venda é claro que é aqui!
“Vendem-se ovos de galinha caipira frescos.”
- Mas se sou uma venda é claro que eu vendo. Ai ai….
“Ovos de galinha caipira frescos.”
- Galinha caipira. As galinhas estão aqui atrás da venda num cercado e aqui é uma cidade do interior... talvez seja óbvio que a galinha é caipira.
“Ovos de galinha frescos.”
- Eita… as galinhas! Elas estão ali atrás, lembra?
“Ovos frescos.”
- Bom.. acho que ficou bom. Mas… ninguém espera comprar ovos estragados. Ovos bons para o consumo TÊM que ser frescos.
“Ovos”
Agora sim.
Quando eu li esse texto fiquei encantada. Tanto que nunca esqueci dele. Achei incrível sua construção e a mensagem que ele passa(va). Você pode dizer tudo dizendo quase nada.
Muitas coisas precisam ser ditas e a tal falta de interpretação hoje em dia nos faz ter que explicar (e desenhar) para sermos entendidos. Mas não podemos negar o efeito de uma mensagem precisa.
E o curioso é que faço esse exercício de “redução” de textos e até mesmo nas conversas com meus botões. Percebi que a busca pelo cerne da questão é um trabalho de autoconhecimento. Ou seria o trabalho de autoconhecimento que me leva a buscar o cerne das questões? Tirar tudo o que não diz nada da frente e olhar para o que é de verdade.
Nessa newsletter faço diferente quanto ao título. Dou uma scanneada naquilo que gostaria de ser colocado pra fora. Escrevo o título e depois o texto.
É comum o título e subtítulo mudarem algumas palavras. Ou trocarem de lugar.
Tá e daí?
Daí que num exercício inconsciente de me permitir errar e reconsiderar, eu me proponho algo, mas deixo a porta aberta para mudanças.
Poderia deixar pra colocar o título no final e então ter deixado a porta aberta desde o início? Poderia. Mas percebi que sempre que parti de uma ideia fechada que acabou se transformando em algo diferente, deu uma sensação boa de que tenho o poder de mudar a realidade. Posso estar certa de algo e colocar energia naquilo, mas ao longo do caminho, aquilo que parecia certo como 2 e 2 são 4, já não é bem assim e temos a escolha de mudar ou permanecer.
Hoje o título não mudou no final e estava na dúvida se colocava ou não um subtítulo. Resolvi deixar sem. A ideia do texto foi justamente falar do essencial sem precisar explicar. Faz sentido?