The worst case scenario (o pior que pode acontecer)
Um exercício para olhar embaixo da cama e conhecer o real tamanho do monstro.
O casal Beth e Randall na série This is Us quebrando cabeça
A dinâmica criada pelo casal Beth e Randall da série This is Us os ajudava a lidar com as (revira)voltas que a vida dá. Diante de uma situação crítica em que se viam consumidos pela angústia e aflição, eles jogavam THE WORST CASE SCENARIO. Funcionava assim: de forma alternada, eles falavam tudo o que vinha à mente do pior que podia acontecer sobre aquele evento. A ideia é que pudesse ser a pior coisa mesmo, sem julgamento ou censura da outra parte.
Além de nitidamente liberar um pouco da tensão a gente pode perceber que ao final do desabafo eles se sentiam mais próximos e fortalecidos em passar pelo problema. Não que o jogo resolvesse o problema, mas deixava às claras como cada um se sentia e permitia que ambos se apoiassem.
Claro que o fato de Randall ser extremamente perfeccionista e naturalmente ansioso, sempre alerta quanto aos possíveis piores desfechos, o exercício era uma boa forma de lidar com isso.
Afinal, quantas vezes a gente falando sobre um problema se dá conta de que ele não é tão ruim assim, ou tem sim alguma saída, ou melhor, se não tem saída remediado está?
Falar sobre os problemas, seja para quem for, pode ser bastante eficaz. Às vezes o nó pode ser desenrolado pelo simples ato de falar sobre ele.
Se falar não for algo pra você, é possível escrever ;)
O ponto pra mim que faz o jogo funcionar tão bem é a liberdade para se falar a pior coisa em mente. Temos a crença de que se pensamos algo “mal”, somos “maus” então devemos negar a existência desses pensamentos.
No capítulo 8 do livro SETH - A Natureza da Realidade Pessoal, por Jane Roberts,
Seth nos explica que a existência de pensamentos se dá por que existe uma razão para tê-los. Nada dentro da natureza como nós a compreendemos é sem sentido nem deve ser ignorado. Agora, com nossa mente consciente, devemos discriminar aqueles pensamentos que queremos que formem nosso sistema de crenças, sem fingir a existência dos demais. Ele dá um bom exemplo:
Você pode desejar quem um dia chuvoso fosse um dia ensolarado, mas não fica à janela negando que a chuva esteja caindo, ou que o ar esteja frio e o céu escuro.
Aceitar a chuva como uma realidade presente não significa que você deva acreditar que todos os dias são chuvosos, fazendo desse equívoco óbvio uma parte de suas crenças sobre a realidade. Não precisa, portanto, fingir que um pensamento "sombrio" não existe. Não precisa achar que é um fato todos os seus pensamentos serem sombrios, e muito menos ainda, escondê-los.
Então, ao jogar THE WORST CASE SCENARIO nós podemos escolher em quais deles vale concentrar nossa energia e quais não. Quais são pensamentos válidos, possíveis em alguma realidade, mas que não são a realidade que queremos.
Obs.: O livro em grande medida (digo isso porque ainda estou na página 253 de 581) fala sobre o sistema de crenças e como esse sistema cria a nossa realidade. Ele frisa incansavelmente esse conceito, de que nós criamos a nossa realidade, nossos problemas, doenças, experiências, etc. É um conceito um tanto não-tradicional, pois leva em conta que não existe acaso e que somos sim mestres de nossa própria vida. Isso requer uma visão de mundo em que não existe um Deus que te dá as coisas ou que te castiga, e vai contra dogmas predominantes de nossa cultura.
Quando diante de um mal pensamento nos julgamos más pessoas, tratamos de sentir uma culpa e que por ela devíamos ser punidos (no livro ele chama de culpa artificial).
Mais pra frente no mesmo capítulo ele nos mostra como pode ser prejudicial reprimir sentimentos e pensamentos:
Em dez ocasiões justificadas, você pode ter tido vontade de pedir que alguém o deixasse em paz, mas refreou-se, não querendo magoar a pessoa, com medo de ser rude, embora no caso seu comentário pudesse ter sido compreendido e aceito calmamente. Como você não aceitou seus sentimentos e muito menos os expressou, na próxima ocasião poderá explodir sem motivo aparente e iniciar uma espetacular discussão completamente injustificada.
Nesse caso, a outra pessoa não terá idéia do motivo de tal reação, e ficará profundamente ferida, aumentando sua culpa. O problema é que idéias sobre o que é certo e o que é errado estão intimamente envolvidas com sua química, e você não pode separar seus valores morais de seu corpo.
Quando acredita que você é bom, seu corpo funciona bem. Tenho certeza de que muitos de vocês dirão: "Tento ser bom o tempo todo, mas minha saúde está péssima; como pode ser isso?" Se examinar suas próprias crenças, a resposta será aparente. Você tenta ser tão bom, precisamente porque acredita ser tão mau e indigno.
Moral da história: Não se expressar por causa de uma crença de que é errado ou mal, e que portanto, se é uma má pessoa, nos leva à culpa que nos leva à autopunição. Um ciclo nada benéfico ao nosso próprio desenvolvimento, que bloqueia nossas energias.
É preciso avaliar nossas crenças sobre o que é certo e errado, o que é ser bom e mal e não negar nossas partes sombrias. Reconhecer sua existência é diferente de crer que são a sua realidade (“as ideias lhe pertencem, mas não são você”). Assim, manifestar (para alguém ou para si mesmo) corajosa e sinceramente seus pensamentos e sentimentos no momento em que surgem pode surtir um efeito mais pacífico e benéfico do que negar a si mesmo e reprimir-se.