Já faz muitos e muitos anos que fico meio blé no final de ano.
Não me entenda mal, adoro o astral da cidade e das pessoas nessa época. Mais brilhantes, animadas, esperançosas, empáticas, acolhedoras. Há um certo bom humor no ar. Acho uma graça a decoração, embora minha casa não veja um pisca-pisca faz tempo.
Mas esse ano resolvi reconhecer que as tais festas não são mesmo pra mim.
Quando criança, o natal e o ano-novo têm outra conotação. Férias, verão, presentes, fogos, brincar, etc…
Entendo a questão da cultura e tradição. Mas e quando isso não faz mais muito sentido? Fazemos porque sempre fizemos? Porque todo mundo faz? Porque você vai parecer um E.T. se não fizer?
Se pensar bem, quanto mais o ano vai chegando ao fim, mais corridos e sobrecarregados ficamos. Parece que tudo vai ganhando um senso de urgência. E aquela sensação de cansaço extremo bate. Você está só o pó e adoraria ficar…de boa.
Mas aí vêm as confraternizações de empresa, os amigos-secretos, os encerramentos vários, as compras de presentes, de comida, de roupa nova, de decoração, de ingressos, de passagens e por aí vai. De repente a porteira para o enlouquecimento geral se abre e para a falência também.
E o que aconteceu com seus dias de sombra e água fresca?
Pois é.
Aí você pode me dizer: “mas é o momento que você tem para estar junto da família, de quem ama.” Até pode ser, mas dá pra fazer isso em qualquer outro período não? Você não precisa dar um jantar especial para alguém uma vez no ano. Ou presentear. Esse não é o único símbolo de que você se importa. Entendeu a mensagem né?
Resolvi não ceder à pressão e a ouvir o que eu realmente queria me dizer.
E escutei: vá dormir.
Do natal não consegui fugir. Já no ano-novo resolvi passar o dia como outro qualquer, aproveitando para não seguir o relógio, comer o que estivesse a fim e não o que é tradicional (leia-se almoçar hambúrguer e jantar uma massa feita em casa, com vinho), e usar o tempo fazendo coisas agradáveis. O que incluiu maratonar uma série, jogar xadrez e passear com o cachorro.
Por fim, um beijo no marido, uma piada de “até o ano que vem” e cama.
Achei que não ia conseguir dormir. Que nada. Dormi e ainda tive um sonho em que chorava de tanto gargalhar. Ri tanto como há muito tempo eu não fazia.
Não doeu e foi um ótimo dia.
Pensando agora que já é janeiro, percebo como foi uma quebra de paradigma. Veja, nos dias que antecedem a virada do ano, há uma certa pressão sobre aquilo que você prometeu que ia fazer e não fez, um certo sentimento de derrota ou frustração. Sem contar a angústia dos planos para o ano seguinte. A tal lista de metas, promessas de um ano melhor do que o que passou, essas coisas que parecem que vieram de fábrica em nosso cérebro…
Mas ter colocado pouca expectativa nessa virada, ter seguido o fluxo, dormido na hora do sono de todo dia, também tirou o peso do início do ano!
Hoje é mais um dia, de mais um ano, em que coisas boas ou ruins podem acontecer. Melhor cair na real e ter menos expectativa de que TUDO vai mudar DO DIA PRA NOITE.
Que tal fazer nossos dias agradáveis, respeitar nosso tempo, nutrir as relações, presentear sem motivo, dar-se folgas, cuidar da casa, de forma constante e habitual em nossas vidas?