Antes de mais nada, eu gostaria de dizer que escreveria mais vezes aqui, não fosse um erro que acontece com MUITA frequência quando tento acessar o substack. A página não carrega, não consigo nem logar… Tenho certa preguiça de tecnologia, então apareço aqui quando o site resolve estar aberto para me receber. : )
Bem, voltando ao assunto do título, sempre escutei essa frase, bem como a: “crescer dói”. E acredito que as duas estão intimamente ligadas.
Nós e as pessoas com quem convivemos esperam que sejamos aquelas velhas conhecidas de sempre. Até de certa forma previsíveis. A busca por padrões e previsibilidades faz parte de nossa cultura. Claro que estabilidade tem lá suas vantagens. Nada melhor do que ter a tranquilidade de saber que o mundo não estará de pernas pro ar quando se acorda (claro que é possível que esteja, mas estatisticamente falando? Não temos tantas surpresas assim).
Ocorre que a gente muda. O que nós pensávamos ser perigoso com 3 anos de idade, provavelmente não deve nos preocupar hoje (pensamento tirado do livro - Seth a natureza da realidade pessoal). Se olharmos nossas fotos antigas veremos quanta coisa mudou, por fora, mas também por dentro.
Mas a gente coloca limites para essa mudança. Não podemos apenas agir inesperadamente. Passamos tanto tempo lapidando essa persona, não é mesmo?
Ultimamente tenho trabalho na minha autodescoberta. Reconheci que vivia uma vida em que eu não era EU, e sim uma ideia que tinha sobre mim. Uma ideia alimentada pelas minhas experiências, pelas minhas comparações, pela minha educação, pela cultura, etc. Essa primeira descoberta na verdade aconteceu lá por 2008. Disse pela primeira vez em volta, na terapia, que não sabia do que eu realmente gostava de fazer. Não me vinha nada, um branco. 10 anos depois desse vislumbre estava pronta para encarar isso de frente.
Quem sou eu?
Sinceramente? Acho que a grande maioria das pessoas não sabe essa resposta. Não uma resposta do tipo: sou da profissão tal, tenho marido, x filhos, uma empresa assim assado.
Se dar conta de que você não sabe exatamente o que está fazendo, porque está fazendo, para onde está indo, se vive uma vida baseada nos gostos de outra pessoa ou de acordo com o que é esperado, dói.
Dói primeiro porque parece uma certa traição a si mesmo.
Afinal, se eu não estava sendo EU, onde estava esse tempo todo? Como eu não me vi?
E o sentimento de traição também aparece porque seu mundo cai (em maior ou menor grau). Aquilo que você achava que conhecia não existe mais.
As pessoas com quem você convive e às quais chama de amigas, podem passar a não ter nada a ver com seu “novo” eu.
Como e com quem você gasta seu tempo, dinheiro, atenção pode perder o sentido.
Mas isso é crescer, dizem. Ficar maior do que você pensava que era. Sentir que já não cabe mais onde está. Mas que inconveniente!
Aí vem a segunda dor: o luto. O aperto no peito de perder tanto. Será que eu nunca existi? E esse tempo que não volta mais? Ainda dá tempo? O que eu faço com essa nova linha de partida? O que vou encontrar do outro lado?
A terceira dor é o medo.
Medo de olhar pra dentro e descobrir que existem tantas camadas ali esperando para vir à luz.
Será preciso ter coragem de dizer para si e para os outros que você mudou. Que você talvez não vai mais agir como agia (e sabia o resultado), que você pode se afastar (e até sumir) da vida de alguém, que você vai dizer mais nãos ou mais sim do que dizia, que vai a lugares novos, ter novos hobbies, mudar a alimentação, sair do emprego, não ser porto seguro de ninguém, não ser ouvido de pinico de ninguém, se vestir de um jeito que faça sentido pra si, mudar as prioridades, seus horários.
Que não esperem nada de você. Que você viverá uma vida para si e se comprometerá em não fazer mal a ninguém. Sua única certeza é que sua verdadeira natureza tem espaço e as pessoas e circunstâncias coerentes com ela orbitarão ao seu redor.
Seu valor interno será aumentado, seu ser será constantemente aumentado, evoluído. Quem puder, que evolua junto com você.
Não é fácil, dói de pensar, dói de reconhecer, dói para agir e dá medo. Mas me parece um caminho inevitável.