O tal ‘ano novo vida nova’ se apresentou literalmente pra mim em 2024.
Estou mudando de apartamento e esse movimento é “só” a materialização do que vem mudando aqui dentro.
Sinto quase que como um presente, um reconhecimento pelos esforços prestados a mim mesma!
Mas veja, nem tudo são flores à primeira vista.
Por mais que eu tivesse o desejo de mudança (física e emocional), é sempre desconfortável sair de onde você já está familiarizado. E mesmo que a mudança tenha todos os requisitos de uma boa-ótima ideia, nem sempre é fácil.
Por um bom tempo me apegava a tudo que ali tinha de bom, inclusive o clima do bairro, os lugares que eu gostava de frequentar, aquela árvore bonita na esquina, o café que tem um brownie perfeito, os 5min a pé que eu levava pra chegar no yoga…
Já não era de hoje que eu visualizava um outro lugar. Colocava ali as coisas que eu gostaria que tivesse, não sem agradecer ao apartamento atual por ter me acolhido durante tanto tempo. Afinal, não queria ferir seus sentimentos. Só precisava deixar claro que nossa relação tinha chegado ao fim.
Demorei pra perceber que meu prazo ali tinha passado. A partir do momento em que percebi que ‘foi bom enquanto durou’, foi mais fácil ir em busca do próximo capítulo.
Quanta coisa na minha vida ainda estava carregando que já não tinha mais sentido? Quanto coisa a gente insiste em viver, sendo que já morreu?
Acho que é isso que quer dizer ‘a vida é feita de ciclos’. Mas eu tinha a ideia de que os ciclos encerram-se por si mesmos. Nem sempre, aprendi. Às vezes o ciclo se encerra lá fora, mas continua girando aqui dentro. Aí não adianta de nada.
Virada essa chave, peguei-me pensando: mas o que é que foi que morreu? Afinal de contas quando fui morar lá, ele era perfeito! Ele era perfeito pro meu eu de ontem. Mas quando comecei a ouvir minhas vontades, a respeitar meu tempo, a nutrir meus dias com coisas que me interessavam, eu CRESCI e o apartamento “encolheu”.
Comecei a sentir que me faltava espaço. Não importava o quanto eu me desfizesse de coisas desnecessárias, sempre faltava espaço. Eu precisava de mais. Eu podia mais. Eu merecia mais.
Isso me lembra uma aula de filosofia que tive aos 16 anos.
O professor me direcionou para o meio da sala, me colocou agachada atrás de uma cadeira, com as mãos nela. Então ele simulou que segurava uma caixa e colocou por cima de mim bem ajustada e disse: você precisa tirar essa caixa sem tirar as mãos da cadeira.
Pensei, pensei. A sala em silêncio, pensando. Desisti. Disse a ele que não tinha como fazer isso.
E ele: Fazer o que? Tirar a caixa!, eu disse. E ele: que caixa?
Por que diabos eu continuava num lugar que não me cabia mais?
Aquela velha dose de autossabotagem misturada com não merecimento e culpa é a provável resposta.
Por pouco não me deixei diminuir pra caber.
Tão simbólica essa história de caixas e mudanças.
É muito comum e recomendável até que, ao empacotar suas coisas, você aproveite para fazer uma revisão geral. Só levar aquilo que importa, que usa, que gosta. Não ficar acumulando energia parada, de uma gaveta pra outra.
No fundo é preparar-se para seu novo eu.
Tem gente que não gosta de mudar de casa. Eu gosto. Sempre gostei de organização, de reavaliar o que fica e o que deve ser dispensado. Mas nunca tinha vivido uma mudança com esse significado.
Eu me mudei primeiro, pra então mudar de casa. E ao procurar um novo lar, pude escolher, com calma e com atenção, aquele que ressoava com minha nova vibe (essa era minha palavra de 2023, mas ela continua por aqui).
No dia da mudança abrirei um vinho especial e então comemorarei esse ano, que agora sim, está começando.